"Oeconomicae et pecuniariae quaestiones: Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro".
O Papa Francisco e o Vaticano, através da Congregação
para a Doutrina da Fé, publicaram em janeiro desse ano o documento: "Oeconomicae
et pecuniariae quaestiones: Considerações para um discernimento ético sobre
alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro". Onde são
expostas as teses que a religião católica acredita ser de maior relevância para
uma ética econômica que vise primordialmente o bem-estar dos seres humanos e
não a mesquinha acumulação sem limites de bens e riquezas nas mãos de uma
ínfima parcela de pessoas.
Obviamente
esse documento não será divulgado na mídia golpista do Brasil, pois, o
documento expõem muitas das mazelas provocadas pelo capitalismo financeiro
internacional, que levam nações inteiras à falência, como é o caso recente da
Argentina de Macrí (e do Papa), que até bem pouco tempo atrás era vista como um
modelo a ser seguido, conforme o discurso dos neo-liberais de plantão. Pois
bem, por seguir a cartilha do neo-liberalismo o nosso vizinho de continente,
que há mais de uma década não se lançava aos braços nada afáveis do FMI, agora
precisa socorrer-se mais uma vez do Fundo Monetário Internacional. E este, o
FMI, tem a coragem de defender que a Argentina quebrou por causa da seca: "A
Argentina está enfrentando uma volatilidade financeira significativa, em parte
devido às condições financeiras internacionais, mas também por conta da seca
que danificou a produção agrícola nacional", indicou o FMI, destacando a
importância do campo para o desenvolvimento do país."
Para
o FMI a Argentina, e o Brasil também, não passam de um grande fazendão
produtores de commodities e que por isso mesmo, sempre que houver algum deslize
climático, terão grandes problemas em suas economias. Que ninguém aqui se
iluda, assim que acabarem todas aquelas reservas que os governos Lula e Dilma
deixaram para o páis, seremos obrigados a nos dirigir para os mesmos braços
indesejáveis do Fundo Monetário, e com isso, teremos ainda mais cortes
orçamentários principalmente nos programas sociais, na educação, na saúde,
teremos de suportar os discursos dos economistas neo-liberais que dirigem e
orientam as políticas econômicas daquela instituição nos dizendo que não se
pode distribuir renda para a população mais desprovida, sem antes fazer encher
a taça da elite, pois, quando essas taças estiverem cheias, pelo efeito de
derramamento, as classes mais baixas irão receber do que sobejar. Porém, a taça
nunca pára de se alargar e assim, nunca irá ocorrer o tal derramamento, senão,
porque teríamos hoje 1% da população do mundo dona de metade de toda a riqueza
produzida. Nunca em nenhum outro momento da história do Homem houve tamanha
concentração de riquezas.
Não a
toa o documento da Congreção para a Doutrina da Fé diz: "Mesmo que o
bem-estar econômico global tenha certamente crescido ao longo da segunda metade
do século XX, com uma medida e uma rapidez nunca experimentada antes, ocorre
porém constatar que ao mesmo tempo aumentaram as desigualdades entre os vários
Países e ao interno dos mesmos. Além disto continua a ser ingente o número de
pessoas que vivem em condições de extrema pobreza.
Essa
situação de total desastre para a humanidade, só pôde ser alcançada pelo total
egoísmo que faz parte do DNA da classe dominante que pensa única e
exclusivamente em si mesma. Deixando a enorme massa de desprovidos entregues à
sua própria sorte. O sistema capitalista que surgiu para possibilitar oportunidades
iguais a todos, para acabar com os privilégios das castas e estamentos tão
comuns na economia feudal, tornou-se ela mesma, uma economia neo-feudal. Só que
atualmente os senhores feudais são os rentistas, criadores e criaturas do
capital financeiro. Há quase duzentos anos Karl Marx já alertava para esse
perigo da evolução do modo-de-produção capitalista, o capital financeiro
suplantaria o capital produtivo. O professor Luiz Gonzaga Belluzzo já disse: o
mundo pertence aos bancos.
O
documento emitido pela Igreja Católica toca em um ponto crucial para
entendermos um pouco mais a realidade de nossos tempos. Lá se encontra o
seguinte: "Em particular, é sentida a necessidade de realizar uma
reflexão ética sobre alguns aspectos da intermediação financeira, cujo
funcionamento, quando foi desvinculado de adequados fundamentos antropológicos
e morais, não só produziu evidentes abusos e injustiças, mas também revelou-se
capaz de criar crises sistêmicas e de alcance mundial. Trata-se de um
discernimento oferecido a todos os homens e mulheres de boa vontade."
Indubitavelmente
o mundo e a sociedade produzidos pelo capital financeiro não pode ser
considerado como algo saudável e buscado por seres humanos que minimamente se
importam com as demais pessoas que vivem ao seu redor, os abusos, as
injustiças, os maus tratos, a desigualdade, são evidentes para aqueles que
possuem discernimento do bem e do mal. Não se pode aceitar como algo bom,
pessoas que vivem totalmente á margem da sociedade, sem direitos e garantias
mínimas para uma vida digna, saudável e com perspectivas de melhoras. Não de
pode esperar extrair bons frutos de uma terra completamente árida e arrasada.
O
Vaticano deixa claro em seu documento, que tipo de ética é esperada mesmo do
"mercado" tão aclamado pelos neo-liberais: "É claro,
então, que a economia mesma, como cada outro âmbito humano, «tem necessidade da
ética para o seu correto funcionamento; não de uma ética qualquer, mas de uma
ética amiga da pessoa»".
Não
de pode amar a Deus e a Mamom ao mesmo tempo, onde estiver seu coração, lá
estará o seu tesouro. O liberalismo nunca levou em consideração uma ética que
fosse sequer colega da pessoa, quanto mais amiga. Muitos desses vivem a
perguntar onde foi que o comunismo ou o socialismo deram certos, trata-se de
lhes devolver a pergunta: Onde foi que o Liberalismo deu certo?
Comentários
Postar um comentário