Bolsonaro ou Mourão? Eis a questão!
Texto que vai ao ar na TV nos países escandinavos na próxima sexta-feira, no Öppna Kanalen
– Tradução (via Google; original, em inglês, abaixo):
Na semana passada, professores de escolas e universidades, funcionários dessas instituições, bem como estudantes de todas as idades, saíram às ruas para protestar contra os planos do governo de cortar o orçamento da educação pública em inacreditáveis 30%.
Multidões se reuniram nas partes centrais de cada cidade grande brasileira e até das menores.
No Brasil, a maior parte do ensino superior, bem como praticamente toda a pesquisa, são desenvolvidos em universidades públicas.
Há universidades privados, é claro.
Mas elas cobram mensalidades relativamente caras e, o que é ainda pior, proporcionam, em troca, uma aprendizagem de qualidade muito baixa.
Ao longo do século XX, as universidades públicas no Brasil foram fundamentais para o desenvolvimento do país, fornecendo mão de obra qualificada para os setores privado e público.
De 1930 a 1980, ou seja, por 50 anos, o Brasil foi o país cuja economia mais cresceu em todo o mundo.
E essa história de sucesso dependeu, em grande parte, da qualidade das universidades públicas brasileiras, que forneciam não apenas mão-de-obra qualificada, mas também estudos de desenvolvimento, planejamento e pesquisa tecnológica.
O corte orçamentário proposto pelo governo praticamente inviabilizaria o sistema público.
Cortes orçamentários anteriores já tinham feito com que bolsas de pós-graduação, para mestrado, doutorado e pós-doutorado (CAPES/ CNPq), fossem suspensas por quase metade do ano passado.
Imagine se esse orçamento, que já estava longe de ser suficiente, fosse cortado em mais 30%, como o governo planejava?
Bem, confrontados com essa perspectiva, as pessoas disseram “não”.
E grandes multidões tomaram as ruas em 15 de maio para dizer “basta”.
As manifestações foram um enorme sucesso e até a mídia conservadora, de direita, mostrou apoio às mesmas.
O que foi…
… um tanto quanto inesperado.
Mas provou o que alguns especulavam: o todo o poderoso monopólio da mídia, a TV Globo, de fato retirou seu apoio ao presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.
*
Um grande político brasileiro, já falecido, um patriota das fileiras da esquerda tradicional, nacionalista, chamado Leonel Brizola, o único indivíduo na História do Brasil a ser eleito governador de dois estados brasileiros diferentes – o Rio Grande do Sul na década de 1960 e o Rio de Janeiro nas décadas de 1980 e 1990 –, uma vez formulou frase famosa em relação à TV Globo:
(paráfrase com adaptações)
“Na política, se as coisas não estiverem claras em determinado momento, de forma que você não tenha muita certeza sobre como proceder quando confrontado com um grande dilema político, há uma maneira fácil de chegar à resposta certa: fique de olho na TV Globo. Qualquer que seja o lado para o qual a TV Globo esteja inclinada, esse é, com certeza, o lado errado. Então, se a TV Globo é favorável a alguma coisa, você deve ser totalmente contra. Se a TV Globo é contra alguma outra coisa, então você deve apoiar essa última com entusiasmo!”
Nós aqui no Duplo Expresso apelidamos essa fórmula de “regra de ouro do Brizola”.
“De ouro” porque ela – nunca, nunca mesmo – falha!
Então, embora nós, obviamente, apoiemos o movimento que tomou as ruas para defender o sistema público de educação do Brasil, ficamos muito desconfiados do apoio inesperado da TV Globo ao mesmo.
E desconfiados também das razões que podem estar por trás disso.
Tornando toda essa situação ainda mais paradoxal, a TV Globo vem historicamente, de forma reiterada, defendendo cortes nos orçamentos das universidades públicas!
E até sugeriu, mais de uma vez, privatiza-las completamente!
Então… a TV Globo de repente mudou de ideia?
Bem, na verdade, não.
Parece que a Globo TV quer que o atual Vice-Presidente do Brasil, o ex-General aposentado Hamilton Mourão, intervenha e torne-se, ele, o Presidente.
E, a bem da verdade, a TV Globo não está sozinha nesse movimento estratégico.
A TV Globo é, como sabemos todos, inimiga jurada do Partido dos Trabalhadores, de esquerda, o Partido do ex-presidente Lula.
Surpreendentemente, porém, a TV Globo agora se encontra, na questão de apoiar a investidura do General Mourão como Presidente, na companhia de – muitos – membros da oposição, incluindo alguns do…
– … Partido dos Trabalhadores!
A TV Globo, com os seus estreitos laços com a “Operação Lava Jato”, é a responsável pela injusta condenação criminal e a prisão do ex-presidente Lula no ano passado, o que o levou a não poder concorrer novamente à Presidência, frustrando mais da metade dos eleitores, que queria votar nele.
E, no entanto, a TV Globo e os membros do Partido dos Trabalhadores estão agora do mesmo lado, compartilhando o desejo de ver o General Mourão, o atual Vice-Presidente, como Chefe de Estado e Chefe de Governo.
Não nos leve a mal: nós, aqui no Duplo Expresso, também queremos que o atual Presidente Jair Bolsonaro saia. E o quanto antes!
Nós, na verdade, vimos dedicando todos os nossos esforços nesse sentido.
Bolsonaro é um péssimo presidente. Um que tem sido especialmente duro para os muitos pobres do país e que avilta a soberania brasileira quase a ponto de não retorno, tendo vindo a se tornar, de forma humilhante, o poodle sul-americano do presidente americano Donald Trump.
No entanto, não há razão para acreditar que o General Mourão seria diferente.
E, novamente, diante de tal dilema político, voltamos nós à regra de ouro de Brizola:
“Se a Globo quer alguma coisa, seja contra!”
Nesse dilema específico, ou seja, “escolher entre Bolsonaro e Mourão”, pensamos que observamos tal regra áurea quando dizemos em resposta:
– Nenhum dos dois!
Bolsonaro deve, de fato, deixar o cargo.
O mais cedo possível.
Mas ele deveria fazê-lo da maneira como entrou: junto com o general Hamilton Mourão – sua alma gêmea ideológica que agora finge ser um “estadista moderado” para atrair os tolos.
E, também, os não tão “tolos” assim, como a TV Globo e os indivíduos no Partido dos Trabalhadores que traíram o seu fundador, o injustiçado ex-Presidente Lula.
Aliás, o ex-governador Brizola tem outra frase famosa:
“A política ama a traição…
… mas despreza os traidores!””
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